sexta-feira, 27 de março de 2009

Tchau à mulher goiabada...

LYGIA Bojunga Nunes se destaca dentre as autoras brasileiras por suas narrativas fascinantes. Falar de um dos aspectos de sua obra é mutilá-la, é deixar de lado todo um universo a explorar. Mesmo assim, escolhi falar sobre a imagem da mulher que nela encontramos, parte da preocupação com o ser humano em geral, independente do sexo, que se percebe em sua obra.A princípio, é preciso que se assinale a abundância de personagens femininas mas também a variedade de personagens masculinas. Esta é uma primeira constatação : as questões femininas ,na obra desta autora, nos aparecem , várias vezes, sob ângulo masculino.Outra observação feita foi a de que há várias mulheres habitando a obra bojunguiana. Algumas delas aparecem em narrativas diferentes, outras, apenas se apresentam, dizem um verso e vão embora ...Há também a discussão de vários aspectos do feminino. Há questões que se ligam à identidade, à sua colocação no mundo, na sociedade; há a necessidade de se manifestar, enquanto criadora ; há a relação homem/mulher, há a discussão de estereótipos femininos ..Esta comunicação pretende investigar a presença feminina na obra de Lygia Bojunga Nunes , desde Os Colegas até Tchau!, obra que entendo como um marco na ficção infanto-juvenil no que diz respeito à imagem feminina, devido às situações ímpares que as narrativas contidas nessa obra apresentam.Desde a sua primeira obra, Os Colegas, editada em 1972, as personagens femininas de suas narrativas merecem destaque. A personagem Flor ( de Lis), uma cachorrinha de raça, é capaz de se despojar das marcas de riqueza que a cobriam em troca de sua liberdade, de sua verdadeira identidade , pois os adereços impostos por sua dona já a faziam duvidar que fosse realmente uma cachorra . Depois, numa demonstração de coragem, é capaz também de sacrificar-se em nome da amizade que tem pelos companheiros. É ela a autora da idéia que será colocada em prática, para tentar salvá-los. Essa mulher que aparece zoomorfizada na pele de Flor pensa , age , resolve os problemas, é uma mulher valente, destemida sem deixar de ser feminina, embora não se caracterize pela situação materna. Ela é apenas um dos colegas, que lutam pela sobrevivência, independente de ser homem ou mulher. Laura Sandroni, em seu estudo sobre a obra dessa autora, aponta a crítica à "representação caricatural do feminino às classes sociais",[1] encontradas nas palavras da dona de Flor, que quer " uma cachorra caríssima e de raça puríssima, pra todo mundo achar linda e saber quanto custou." (p.13)Percebe-se que Flor aparece como a mulher que é exibida como um troféu. A esta imagem de mulher é que Lygia faz crítica, mostrando a cachorrinha feliz por se livrar de todos os apetrechos que não a deixavam ser quem realmente era. A mulher-objeto não tem mais lugar.Angélica, a segunda obra de Lygia, de 1975 - traz uma cegonha-mulher como protagonista . Mais uma vez a autora discute questões femininas através da figura de animais . As mulheres dessa história - Angélica, Jandira e Mimi - são diferentes e cada uma representa um aspecto do feminino. Angélica é a mulher segura de si, que não vê problema algum em pagar a conta do restaurante para o namorado , que sai em busca de seus direitos, principalmente o de lutar pelo que acredita. Ouçamos sua conversa com Porto :- Puxa, que vergonha.- O quê?- Você pagou a conta pra mim.- Ué, se você pagasse pra mim eu não ia achar vergonha nenhuma .- Ah, mas é diferente.(...)- Porque é o homem que tem sempre que pagar: é isso.- Ih, Porto, essa idéia é tão antiguinha ! (p.43)Em contraste com as atitudes de Angélica , a Mulher-do-Jota passa a narrativa inteira submissa ao marido, por isso sequer lhe sabemos o nome. Deixa-se esmagar pelo autoritarismo do marido, cujo discurso machista é inconfundível :- Mas eu vou sozinho.: minha mulher fica em casa.- Ah Jota ! disse a mulher toda triste. Quis dizer muito mais, mas as palavras trancaram na garganta e só que conseguiu sair foi uma lágrima pequenina.- Ah o quê? Lugar de mulher é dentro de casa cuidando dos filhos, pronto, acabou-se! Não é, Canarinho?- Mas , Jota ,[2] esse negócio de mulher não poder trabalhar já era !- Pra mim continua sendo, pronto, acabou-se.Somente no final da narrativa consegue impedir que o marido fale por ela e revela seu nome - Jandira - afinal a sua identidade. Há um caminho percorrido, há conquistas que devem ser levadas em conta, há questões sobre a relação entre o casal.A outra mulher , Mimi-das-perucas, é a representante da mulher desmiolada, vaidosa ao extremo, consumista, que vive em salões, em compras e só valoriza a aparência, sem notar que seus desejos exagerados fazem mal ao marido, que é obrigado a abrir mão daquilo com que gosta de trabalhar para poder satisfazer os caprichos da esposa. Esta acaba por se consumir a si própria, já que não pára de consumir tudo, e um dia , " ficou tanto tempo debaixo daquele secador que os cabeleireiros usam, que secou a peruca, a cabeça, Mimi toda secou e morreu."(p.93) . Tanto Jandira (a princípio) quanto Mimi podem ser vistas como representantes de um padrão feminino que não assume responsabilidades, que se porta como uma menina, denominado por Linda Schierse Leonard de "puella aeterna ", a menina que não cresce , que precisa de ajuda para assumir sua identidade mulher. Esse padrão se repetirá em várias outras personagens, como veremos depois.Também em A bolsa amarela, de 1976, surgem questões que dizem respeito ao relacionamento homem/mulher . A "vontade de ter nascido garoto em vez de menina", que aparece na primeira página da narrativa, já dá o tom que encontraremos em seu desenvolver. Mas ela não vem sozinha e duas outras vontades fortes se apresentam juntas : ' a de crescer de uma vez e deixar de ser criança" e a "vontade de escrever" Das três vontades de Raquel, duas passarão a ser temáticas constantes na obra desta escritora : as relações homem/mulher e a mulher/escritura .Raquel não se conforma de não poder fazer coisas que são só para meninos, deseja libertar-se de um modelo comportamental estabelecido, inclusive contra a instrução feminina. Ouçamos a sua voz :Se eu quero jogar uma pelada, que é o tipo do jogo que eu gosto, todo mundo faz pouco de mim e diz que é coisa pra homem; se eu quero soltar pipa, dizem logo a mesma coisa. É só a gente bobear e fica burra: todo mundo tá sempre dizendo que vocês têm que meter as caras no estudo,, que vocês é que vão ser chefes de família, que vocês é que vão ter tudo. Até para resolver casamento - então eu não vejo - a gente fica esperando vocês decidirem.[3]O discurso feito por Raquel é condizente com as reivindicações das mulheres na década e setenta, quando o movimento hippie incorporou às idéias de Betty Friedman valores baseados na igualdade entre as pessoas, qualquer que fosse a sua raça, sexo ou cor. No entanto, afinal, "a vontade de ser menino emagreceu tanto que foi embora" , o que nos mostra que a menina assumiu sua identidade feminina, sem reservas , por isso poderá crescer normalmente . Por outro lado, ela encontra na escrita a realização que busca na vida real. O mundo de fantasia passa a ocupar um lugar importante em sua vida, tanto que a vontade de escrever é a única que fica com ela , como podemos observar mais adiante :"- E a tua vontade de escrever?- Ah, essa eu não vou soltar. Mas sabe? Ela agora não pesa mais nada: agora eu escrevo tudo que eu quero, ela não tem tempo de engordar."Se lembramos as dificuldades que a mulher teve para conquistar seu direito de escrever, perceberemos que esta é outra questão feminina constante na obra desta autora. Norma Telles, em seu texto Escritoras, Escritas, Escrituras[4], nos fala sobre a dificuldade da mulher de passar de musa à criadora, uma vez que este papel era destinado ao homem e a mulher, para assumi-lo, teria que "matar o anjo do lar, a doce criatura que segura o espelho de aumento, e teria de enfrentar a sombra, o outro lado do anjo, o monstro da rebeldia ou da desobediência." Portanto, é importante que Raquel tenha assumido sua identidade feminina junto com seu lado criativo, mostrando que é possível ser mulher e criadora. Assim como Raquel consegue se libertar do papel secundário destinado à mulher na escrita, outras personagens também o farão, como veremos adiante, e não mais precisarão , como as mulheres goiabadas, esconder seus escritos entre os cadernos de receitas, domínio exclusivamente feminino.Ainda considerando a relação homem/mulher , outra personagem interessante é o galo Afonso, pois traz em seu discurso, sob a ótica masculina, uma questão importante: as mulheres queriam realmente mudar ?Então eu chamei as minhas quinze galinhas e pedi, por favor, pra elas me ajudarem. Expliquei que vivia muito cansado de ter que mandar e desmandar nelas todas noite e dia. Mas elas falaram: Você é nosso dono. Você é que resolve tudo pra gente. Sabe, Raquel, elas não botavam um ovo, não davam uma ciscadinha, não faziam coisa nenhuma, sem vir perguntar :"Eu posso? Você deixa?" E se eu respondia: " Ora, minha filha, o ovo é seu, a vida é sua, resolve como você achar melhor", elas desatavam a chorar, não queriam mais comer, emagreciam, até morriam. Elas achavam que era melhor ter dono mandando que ter que resolver qualquer coisa. Diziam que pensar dá muito trabalho.[5]Observe-se que esse comportamento era apresentado por muitas mulheres da época, que não tinham sido criadas para a nova condição feminina e não poderiam sequer pensar em assumir responsabilidades e tomar decisões. Novamente o padrão da puella se apresenta : são mulheres que não cresceram e precisam da proteção do homem para que se sintam seguras.Corda Bamba, de 1979, traz uma série de questões relativas à mulher, a começar pela figura da Mulher Barbuda, ser híbrido que por aparentar a masculinidade através da barba, não perde o instinto feminino e nem o respeito de seu marido que " ach(a)o legal! Nem eu me importo dela ter barba, nem ela se importa d'eu engolir fogo." (p.12) . A barba , segundo Jean Chevalier, é o "símbolo da virilidade, de coragem, de sabedoria" [6], por isso " as rainhas egípcias são representadas com barba, como sinal de poder igual ao rei."Essa igualdade de poder é percebida através do respeito mútuo entre o casal, que tem características distintas , apreciadas como pertinentes à identidade de cada um. Foguinho apresenta a sensibilidade feminina para as coisas simples da natureza, como o soprar do vento, o movimento das marés, o nascimento das estrelas ...enquanto sua mulher ostenta uma barba. Assim , as diferenças os completam, sem disputas entre eles.A avó de Maria traz outro aspecto interessante da mulher : fora casada quatro vezes, mas ainda assim está só. A razão disso : dona Maria Cecília de Melo Mendonça queria mandar nos maridos. Quem nos narra sua história é a velha contadora de histórias, comprada de presente para Maria:Só sei que um dia, Dona Maria Cecília Mendonça de Melo, que não gostava de homem de barba, que não gostava do nome Pedro, que não gostava de homem com mania de trabalhar, encontrou um homem de barba chamado Pedro e trabalhando pra chuchu. Ele começou a gostar dela e pediu ela em casamento. Ela ficou tão espantada de ser pedida em vez de pedir, que topou. E quando foi querer mandar nele, ele falou: nem eu mando em você nem você em mim. mas ela cismou que era ela que mandava, e que ele tinha que raspar a barba, e que ele tinha que trocar de nome, e que mais isso e mais aquilo, e aí um dia ele falou :tchau! Só volto quando você parar com essa mania de querer mandar em mim.[7]Observa-se que a relação entre o casal é prejudicada pela necessidade de um mandar e, neste caso, a mulher. Dessa forma, Lygia Bojunga traz de novo o lado masculino da relação entre o casal. A mulher não é só a vítima, ela pode ser também a razão de discordância, pode ela própria dificultar uma relação de igualdade. Ao retomar a barba, a autora parece querer nos dizer que ser masculino não significa necessariamente o poder, pois Pedro, aquele que a tem, é quem propõe a igualdade de direitos, negada por Maria Cecília. Esta representa o padrão "amazona de couraça" apontado também por Linda Leonard, mulheres que , à primeira vista, são confiantes, forte, poderosas, mas que se revelam solitárias e imensamente assustadas, por trás da couraça.De 1980 é O sofá estampado, em que a autora retoma as personagens zoomorfizadas . As fêmeas, também nesta narrativa , representam vários aspectos do feminino. Temos, por exemplo, a dona-de-casa retomando a imagem da mulher fútil, que só se preocupa com as aparências e , por isso, deve combinar tudo. Ela possui uma gata angorá que a complementa , pois passa o dia todo frente à televisão e vê na propaganda os sinais de status necessários para viver : tem que comprar tudo. Essas mulheres desmioladas se opõem à figura da avó de Vítor, uma mulher inquieta, que não nega sua condição feminina , mas não deixa que sua curiosidade e a vontade de ver o mundo morram em seu peito, já que "Desde pequena ela tinha vontade de viajar, queria por força conhecer o mundo. E queria conhecer tudo de tatu ; como eles eram antigamente, o que eles comiam, onde é que tinha vivido o primeiro tatu. Foi ser bandeirante, excursionista, bolsista.(...) Estudou arqueologia, viajava cada vez mais longe.. "[8]Depois que o marido, companheiro de viagens, morreu, ela teve que parar, pois deveria criar sozinha os filhos. Portanto, não foge a seu papel de mãe e somente quando o último filho se formou, ela chamou os cinco e anunciou: " Bom, meus queridos, vocês estão com a cabeça cheia de idéias, estão com saúde, daqui pra frente cada um se vira à vontade, tá? - Tirou a poeira da mala e voltou a viajar. " (p.50)Mais uma vez a autora parece nos mostrar que, para assumir sua identidade, a mulher não precisa negar sua condição feminina , desde que haja vontade de conciliar , desde que o preconceito não fale mais alto. Esta é uma mulher saudável, que não desenvolveu nenhum dos padrões patológicos apontados por Linda Leonard.Outra personagem interessante nesta obra é Pôzinha., uma hipopótama que se apaixona por Ipo, para quem começa a trabalhar e ganha muito dinheiro. Com o tempo, Ipo a afasta de si, levando em conta apenas seu trabalho. Aos poucos Pôzinha se ergue, estuda administração de empresas à noite, funda uma agência de publicidade e se torna rica. Só que neste processo, para compensar a carência afetiva, transforma-se em uma "workholic", uma viciada no trabalho, como tantas mulheres já o são : suas mágoas são canalizadas para força de trabalho , que , afinal , não preenche o vazio. Essa também é uma personagem que se encaixa no padrão da amazona de couraça, pois embora se mostre irredutível quanto à necessidade de lucro, de se auto-afirmar, revela-se magoada a ponto de procurar o inventor da máquina de transformar a mágoa em algo positivo.Este longo percurso até chegar a Tchau! , obra que nomeia esta comunicação, nos apresentou diversos enfoques do feminino, mas em nenhum deles havia o rompimento com a imagem de mãe apontada pela burguesia , em que era "considerada base moral da sociedade, (a mulher de elite), a esposa e mãe da família burguesa deveria adotar regras castas no encontro sexual com o marido, vigiar a castidade das filhas, constituir uma descendência saudável e cuidar do comportamento da prole."[9] Nesse percurso, a autora procura mostrar as possibilidades de convivência entre os vários aspectos femininos.Nesta obra, composta por quatro contos, também encontramos várias faces do feminino, inclusive aquelas já percebidas em outras narrativas, como a mulher escritora, que surge em A troca e a tarefa, em que a escritura se torna fundamental na vida da mulher , a ponto de as duas terem o mesmo fim: acabam juntas.Em O bife e a pipoca a mulher dona-de-casa é retomada, aquela que se mostra preocupada apenas com o tapete manchado, onde caiu o bife de Tuca que, por vergonha, não consegue pedir mais comida. Quando a empregada pergunta se seria necessário servir de novo o garoto, a mãe responde : " Será que é preciso? - Examinou o tapete. - Passa a escova pra ver se não ficou nenhuma manchinha." (p.37) Ela não tem a sensibilidade de perceber o embaraço do menino, sua única preocupação é a limpeza do tapete. Por outro lado, a mãe de Tuca nos traz um aspecto do feminino que não surgira na obra bojunguiana até então : a mulher degradada. É Tuca quem nos conta :Quando a minha irmã tranca a minha mãe daquele jeito é porque minha mãe já tá tão bêbada que faz qualquer besteira pra continuar bebendo mais. - Começou a sacudir o Rodrigo. - Você olhou bem pra cara dela, olhou? Pena que ela não tava chorando e gritando pra você ver. Ela chora e grita ( feito nenem com fome) pedindo cachaça por favor. (p.41/42)Essa mulher da favela, tão distante daquela preocupada com o tapete, traz para a literatura infanto-juvenil uma imagem que faz parte da realidade de várias crianças, não somente das pobres, mas ela não é comum na literatura. Mais uma vez tem-se a impressão de que a autora não quer deixar de lado nenhum aspecto do feminino e é por isso que traz a figura da Mãe, mulher sem outra identidade, nomeada apenas assim, com letra maiúscula e tudo.A Mãe, de Tchau! , mais que uma personagem da literatura , personifica a condição feminina de mulher, que se apaixona e é capaz de deixar a família, os filhos, para viver o seu amor. Irônico então é o nome atribuído à personagem .Na condição de mãe de duas crianças, seria esperado dela que desempenhasse o papel de Hera, "protetora das mulheres casadas legitimamente"[10], que tentasse manter sua família unida, que lutasse contra possíveis paixões do marido. No entanto, é ela quem conhece outro homem, é ela que se apaixona por um grego - não por acaso - e deixa o lar, a despeito dos pedidos do marido e da filha. A luta entre Hera e Afrodite parece se concretizar nesta personagem, que se vê arrastada pelo amor erótico - talvez o próprio Eros, em forma de grego - e abandona o lar. É a Mãe que nos conta sobre a paixão que sente por esse homem :Se ele me diz, vem te encontrar comigo, mesmo não querendo eu vou; se ele fala que quer me abraçar, mesmo achando que eu não devo eu deixo; tudo que eu faço de dia, cuidar de vocês, da casa, de tudo, eu faço feito dormindo: sempre sonhando com ele; e de noite eu fico acordada, só pensando, pensando nele. (...) só de chegar perto dele eu fico toda suando, e cada vez que eu fico longe eu só quero é ir pra perto, Rebeca! Rebeca! Eu tô sem controle de mim mesma.[11]Ao nomear essa personagem de Mãe e fazê-la apaixonar-se tão perdidamente por esse homem, Lygia Bojunga parece querer afirmar a existência da mulher por trás ( ou à frente) da mãe. Ela é Mãe, mas é também Mulher . A mulher, talhada pelos valores burgueses, em sua condição de quase santa e assexuada, não é a que encontramos. Então, percebemos que estamos diante de outra faceta feminina, que ainda não surgira na obra desta autora e muito menos em de outros tantos autores.Interessante também é notar que ao conversar com o pai , Rebeca se refere à mãe, com letra minúscula, ou seja, não é mais a identidade feminina que encontramos, como no início da narrativa, mas o papel desempenhado dentro da família. Interessante também é constatar que esse pai se revela fraco, sente-se impotente diante da possibilidade de criar os filhos sozinho, e transfere para Rebeca a responsabilidade de reter a mãe em casa. Chantagem pura.Essa faceta feminina existe, por isso é mostrada por Lygia Bojunga, independente do leitor a que se destine a obra, no entanto, não podemos deixar de perceber que a concepção desta personagem parece romper um trato feito , há muito tempo, entre escritores de obras para crianças, de construir uma imagem feminina idealizada, em que a figura materna se sobreponha a qualquer outro aspecto desse ser.Considerações finaisApós a leitura da obra de Lygia Bojunga Nunes, percebe-se que a imagem feminina se revela sob vários aspectos , como em um poliedro: há várias faces que compõem o todo. Essa visão cubista se constrói porque a autora não se limita a apresentar a mulher sob uma ótica feminista ou machista. Na verdade, parece querer deixar ao leitor a possibilidade de construir a sua imagem., reafirmando a impossibilidade de determinar-lhe um único perfil.Suas faces se multiplicam , se perpetuam nas diversas personagens não citadas, aqui, por absoluta falta de espaço. É o caso de obras como O meu amigo pintor, em que cada mulher deveria ter uma face, e naõ ser "assim sempre igual" ou em Seis vezes Lucas, narrativa habitada por várias mulheres.Apesar desta diversidade, a obra Tchau! se destaca do conjunto pela singularidade das imagens que apresenta, principalmente no conto homônimo e em O Bife e a pipoca. Entendo que a autora, ao romper barreiras e trazer para a literatura infantil as imagens dessas mulheres, demonstra a necessidade de que a mulher seja vista , também na literatura, como um todo, não a partir de estereótipos pré-estabelecidos pela sociedade burguesa.Assim, a obra de Lygia Bojunga Nunes revela-se imensamente rica para a reflexão sobre o papel da mulher no mundo, na sociedade. Poucas são as autoras que conseguiram mostrar a mulher de modo tão completo; poucas são as autoras que permitem, assim como ela, que cada leitor escolha seu caminho neste fascinante bosque que nos apresenta.


*Colaborou gentilmente com a postagem a Profª Drª Cátia Toledo Mendonça ( Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Notas:
[1] SANDRONI, Laura. De Lobato a Bojunga. Rio de Janeiro : Agir, 1987. P.120.
[2] NUNES, Lygia Bojunga. Angélica. 18ed.Rio de Janeiro : Agir, 1995.p.89/90
[3] NUNES, Lygia Bojunga . A Bolsa Amarela. São Paulo : Agir, 1986.p.16.
[4] História das Mulheres no Brasil, São Paulo : Contexto, 2000. página 408.
[5] Idem, p.35.
[6] CHEVALIER,Jean& GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. São Paulo : José Olympio, 1988p.121.
[7] NUNES, Lygia Bojunga.Corda Bamba, 15ed.Rio de Janeiro: Agir,1993. p.102
[8] NUNES, Lygia Bojunga . O sofá estampado6ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1985.p.49
[9] História das mulheres no Brasil, página 230.
[10] KURY, Mario da Gama. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro :Jorge Zahar Editor. , p.180.
[11] NUNES, Lygia Bojunga. Tchau! 4ed.Rio de Janeiro: Agir, 1989. P.14.

Referências Bibliográficas

1. CHEVALIER,Jean& GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. RJ : José Olympio, 1988.
2. História das mulheres no Brasil . org. de Mary del Priori. São Paulo : Contexto, 2000.
3. LEONARD,Linda Schierse.A mulher ferida. São Paulo : Saraiva, 1990
4. NUNES, Lygia Bojunga . A Bolsa Amarela. Rio de Janeiro : Agir, 1986.
5. _____ Angélica. 18ed.Rio de Janeiro : Agir, 1995.
6. ___ Corda Bamba, 15ed.Rio de Janeiro: Agir,1993.
7. ___ Os colegas. 11ed.Rio de Janeiro : José Olympio, 1983.
8. _____ Tchau! 4ed.Rio de Janeiro: Agir, 1989.
9. SANDRONI, Laura. De Lobato a Bojunga. Rio de Janeiro : Agir, 1987.
10. KURY, Mario da Gama. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro :Jorge Zahar Editor. ,
**Observação: A imagem da postagem é uma pintura Rococó, entitulada "A leitora" do artista do pintor francês Jean Honoré Fragonard.

sábado, 21 de março de 2009

IV Encontro Regional de Estudantes de Letras

*Maringá - PR

“O ESTUDANTE DE LETRAS:
MÚLTIPLAS PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES”


Acontecerá entre os dias 18 a 21 de abril, em Maringá - PR, o IV Encontro Regional dos Estudantes de Letras - EREL 2009. O evento traz palestras, saraus e festas, tudo para promover integração dos estudantes do curso de Letras e os participantes recebem certificado de horas. Para se inscrever o estudante deverá preencher a ficha de inscrição* e enviar juntamente com o comprovante de depósito via e-mail para erelsul2009@hotmail.com.
O valor total da inscrição é de R$ 70,00 até dia 31/03/2009. Os dados para depósito são:
Banco: caixa econômica federal
Agência: 3178-01c/c: 4910-2 Bruno Franceschini
O Centro Acadêmico de Letras Helena Kolody - Fênix, já está fazendo orçamento com a Rimatur. Ainda não temos o valor exato, mas acreditamos que a passagem ficará em torno de R$80,00 por pessoa (ida e volta). Assim, como a inscrição, esse valor deverá ser pago antecipadamente. Para maiores informações e esclarecimentos, favor enviar um email para: everson.caetano@gmail, e ele entrará em contato com o Comissão Organizadora para dirimir qualquer dúvida.


FICHA DE INSCRIÇÃO:Observação: Clique no link abaixo e abrirá uma outra tela em html.

"Existem homens que lutam um dia e são bons;
Existem outros que lutam muitos anos e são melhores;
Existem aqueles que lutam muitos anos e são muitos bons.
Porém, existem homens que lutam toda a vida. estes são imprescindíveis". Bertold Brecht






































terça-feira, 17 de março de 2009

1º Sarau Literário - PUCPR


PS1: Quem quiser e puder, aceitaremos a doação de um livro infantil ou infanto-juvenil.
PS2: No dia do evento, estaremos dstrbuindo um bônus de 25% de desconto para assistir a peça "Melan&colia" do Festiva de Teatro de Curitiba.
Não sabe o que é um Sarau? Clique aqui: http://www.ybytucatu.com.br/sarau.htm

sexta-feira, 6 de março de 2009

A arte de produzir fome...


Adélia Prado me ensina pedagogia. Diz ela: "Não quero faca nem queijo; quero é fome". O comer não começa com o queijo. O comer começa na fome de comer queijo. Se não tenho fome é inútil ter queijo. Mas se tenho fome de queijo e não tenho queijo, eu dou um jeito de arranjar um queijo...
Sugeri, faz muitos anos, que, para se entrar numa escola, alunos e professores deveriam passar por uma cozinha. Os cozinheiros bem que podem dar lições aos professores. Foi na cozinha que a Babette e a Tita realizaram suas feitiçarias... Se vocês, por acaso, ainda não as conhecem, tratem de conhecê-las: a Babette, no filme "A Festa de Babette", e a Tita, em "Como Água para Chocolate". Babette e Tita, feiticeiras, sabiam que os banquetes não começam com a comida que se serve. Eles se iniciam com a fome. A verdadeira cozinheira é aquela que sabe a arte de produzir fome...
Quando vivi nos Estados Unidos, minha família e eu visitávamos, vez por outra, uma parenta distante, nascida na Alemanha. Seus hábitos germânicos eram rígidos e implacáveis.
Não admitia que uma criança se recusasse a comer a comida que era servida. Meus dois filhos, meninos, movidos pelo medo, comiam em silêncio. Mas eu me lembro de uma vez em que, voltando para casa, foi preciso parar o carro para que vomitassem. Sem fome, o corpo se recusa a comer. Forçado, ele vomita.
Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim "affetare", quer dizer "ir atrás". É o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.
Eu era menino. Ao lado da pequena casa onde morava, havia uma casa com um pomar enorme que eu devorava com os olhos, olhando sobre o muro. Pois aconteceu que uma árvore cujos galhos chegavam a dois metros do muro se cobriu de frutinhas que eu não conhecia.
Eram pequenas, redondas, vermelhas, brilhantes. A simples visão daquelas frutinhas vermelhas provocou o meu desejo. Eu queria comê-las.
E foi então que, provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar se pôs a funcionar. Anote isso: o pensamento é a ponte que o corpo constrói a fim de chegar ao objeto do seu desejo.
Se eu não tivesse visto e desejado as ditas frutinhas, minha máquina de pensar teria permanecido parada. Imagine se a vizinha, ao ver os meus olhos desejantes sobre o muro, com dó de mim, tivesse me dado um punhado das ditas frutinhas, as pitangas. Nesse caso, também minha máquina de pensar não teria funcionado. Meu desejo teria se realizado por meio de um atalho, sem que eu tivesse tido necessidade de pensar. Anote isso também: se o desejo for satisfeito, a máquina de pensar não pensa. Assim, realizando-se o desejo, o pensamento não acontece. A maneira mais fácil de abortar o pensamento é realizando o desejo. Esse é o pecado de muitos pais e professores que ensinam as respostas antes que tivesse havido perguntas.
Provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar me fez uma primeira sugestão, criminosa. "Pule o muro à noite e roube as pitangas." Furto, fruto, tão próximos... Sim, de fato era uma solução racional. O furto me levaria ao fruto desejado. Mas havia um senão: o medo. E se eu fosse pilhado no momento do meu furto? Assim, rejeitei o pensamento criminoso, pelo seu perigo.
Mas o desejo continuou e minha máquina de pensar tratou de encontrar outra solução: "Construa uma maquineta de roubar pitangas". McLuhan nos ensinou que todos os meios técnicos são extensões do corpo. Bicicletas são extensões das pernas, óculos são extensões dos olhos, facas são extensões das unhas.
Uma maquineta de roubar pitangas teria de ser uma extensão do braço. Um braço comprido, com cerca de dois metros. Peguei um pedaço de bambu. Mas um braço comprido de bambu, sem uma mão, seria inútil: as pitangas cairiam.
Achei uma lata de massa de tomates vazia. Amarrei-a com um arame na ponta do bambu. E lhe fiz um dente, que funcionasse como um dedo que segura a fruta. Feita a minha máquina, apanhei todas as pitangas que quis e satisfiz meu desejo. Anote isso também: conhecimentos são extensões do corpo para a realização do desejo.
Imagine agora se eu, mudando-me para um apartamento no Rio de Janeiro, tivesse a idéia de ensinar ao menino meu vizinho a arte de fabricar maquinetas de roubar pitangas. Ele me olharia com desinteresse e pensaria que eu estava louco. No prédio, não havia pitangas para serem roubadas. A cabeça não pensa aquilo que o coração não pede. E anote isso também: conhecimentos que não são nascidos do desejo são como uma maravilhosa cozinha na casa de um homem que sofre de anorexia. Homem sem fome: o fogão nunca será aceso. O banquete nunca será servido.
Dizia Miguel de Unamuno: "Saber por saber: isso é inumano..." A tarefa do professor é a mesma da cozinheira: antes de dar faca e queijo ao aluno, provocar a fome... Se ele tiver fome, mesmo que não haja queijo, ele acabará por fazer uma maquineta de roubá-los. Toda tese acadêmica deveria ser isso: uma maquineta de roubar o objeto que se deseja...


RUBEM ALVES ;)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Os buracos do acordo...

Como a Academia Brasileira de Letras preencheu as lacunas e contradições da lei ortográfica - Luiz Costa Pereira Junior

A Academia Brasileira de Letras concluiu em dezembro e lança em março a versão mais recente do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, pela Global Editora, à luz das regras ortográficas que entraram em vigor este ano. Nele estão as palavras tal qual o acordo manda grafar. Mas também as grafias sobre as quais a nova lei se contradiz ou se omite. Não foram poucos os casos do gênero, garante o gramático Evanildo Bechara, que liderou a equipe da ABL na empreitada. - Buscamos decifrar o espírito do acordo para preencher as lacunas, fundando-nos em bom senso e na tradição lexicográfica corrente - diz Bechara.
Bechara explicou a conduta da ABL num debate em novembro, no Anglo Vestibulares, em que também participaram linguistas como José Luiz Fiorin, Francisco Platão Savioli e Maria Helena de Moura Neves.
- Ficamos sem saber se o acordo, na tentativa de simplificação, esqueceu de apresentar todos os casos ou adotou um critério de dizer que, nos casos omissos, prevalece a grafia antiga. Pois o acordo teve uso curioso do "etc.": pôs "etc." até nas exceções. Decidimos, então, que a exceção fica restrita aos casos prescritos na lei como exceção - diz Bechara.
Significa que a ABL ignorou qualquer exceção que não já citada em lei, só as que estão na lista de exceções antes de surgir o "etc."
- O espírito do acordo sugere a queda do uso do hífen. Não fazia sentido "fim de semana" às vezes levar hífen e "fim de século" nunca levar. O acordo resolve isso. Ficam os dois casos sem sinal. Mas nem tudo foi tão fácil interpretar - diz Bechara.
HifensO acordo manda ignorar o hífen em expressões compostas por mais de uma palavra, quando não há noção de composição. Mas não há pesquisas precisas sobre perda da noção de composição na maioria dos casos, pondera Bechara.
A lei ignora os elementos repetidos que formam compostos. A ABL, então, estendeu o hífen às onomatopeias e palavras expressivas: "blá-blá-blá", "reco-reco", "zum-zum", "zigue-zague", "pingue-pongue", "xique-xique", "lenga-lenga" e derivados como "zum-zunar" e "lenga-lengar". Casos mais complexos, como "tintin por tintin", são agora grafados com hífen (tintim-por-tintim).
Simplificaram, por um lado, a ortografia em vigor nas navegações, complicando de outroComo acomodar, então, a reduplicação da linguagem infantil em palavras criadas por adultos (titio, papai, mamãe)? A se aplicar a regra, haveria hifens indesejáveis nesses casos. Compreendeu-se, então, diz Bechara, que nesses casos a sílaba não funciona sozinha, não tem individualidade discursiva. Portanto, a composição não terá hífen.
E "bombom"? Não é onomatopeia, mas termo de origem francesa. Escreve-se junto, sem hífen, definiu a ABL. Assim como "bumbum". Mas se "bum" vier só e em vez do segundo "bum" houver outro elemento: com hífen, avisa Bechara.
O acordo omite a existência ou não de hífen nos casos em que "não" e "quase" estão ao lado de outras palavras. A ABL não manteve o hífen. Assim, grafam-se "pacto de não agressão" e "cometeu um quase delito", por exemplo. Sem hífen.
A lei define que terão hífen as palavras oriundas ou derivadas da botânica ou da zoologia. Daí "água-de-coco"; "azeite-de-dendê"; "bálsamo-do-canadá". Mas não "sumo de maracujá"; "suco de limão", pois a preposição não estabelece sentido único. Nem tampouco expressões usadas fora do contexto botânico. Por isso, interpretou a ABL:Bico-de-papagaio = com hífen, pois é planta.Bico de papagaio = sem hífen, pois é problema de coluna.

Contexto

A nova lei ortográfica não avança em problemas contextuais. Como locuções não levam mais hífen (pé de moleque, calcanhar de aquiles), assim como "pé de galinha" (ruga) e "pé de galinha" (pata de galináceo). Só o contexto dará a diferença.Porque caiu o acento diferencial, só o contexto da frase determinará se "Ronaldo para o Corinthians" é com "para" (forma verbal) ou "para" (preposição): Ronaldo conseguiu parar o time ou vai trabalhar nele? Assim "trabalhou à toa" (advérbio) x "estou à toa" (adjetivo), todos sem hífen. E "dia a dia" sem hífen, não importa o contexto. Antes, no sentido de "cotidiano", tinha hífen.
O acordo define que paroxítonas com ditongos ei e oi abertos perdem acento (estreia, hemorroida). Mas não se lembrou, diz Bechara, de paroxítonas presas a regras gerais de acentuação, com ei e oi, que precisam de acento se terminadas em r: "destróier", "Méier", "gêiser". A grafia delas fica como antigamente.

Omissões

As sugestões da ABL às lacunas do acordo ortográfico, que assumem valor de lei no Brasil, suscitam dúvidas. De um lado, acabam com ambiguidades e erros das edições de dicionários impressas no ano passado. Quem consultar versões "atualizadas conforme o acordo", de editoras ávidas em garantir sua cota de venda ao governo, encontrará grafias que nem sempre correspondem às de concorrentes, tampouco às da ABL.
Mas não está dado que Portugal acate as sugestões brasileiras, podendo lançar grafias diversas das propostas pelo Brasil, se e quando tratarem do problema (os europeus resistem ao acordo e a preencher suas lacunas). A ABL cria o fato político de precipitar o debate que os portugueses tendem a levar com a barriga.
O mais contundente dado político da medida da ABL, no entanto, é o de demarcar posição e, com isso, normatizar o que talvez nem precisasse. Um equívoco no uso do hífen não é o tipo de tropeço que atrapalha a compreensão ou afete a imagem da pessoa. Ninguém será tomado por ignorante nem deixará de ser entendido ao escrever "água-de-coco" com ou sem hífen. Antes de dar vazão à ânsia normativista, talvez fosse o caso de fazer como idiomas em que o hífen é, quando não ignorado, deixado ao gosto do freguês. Mas o Brasil escolheu outro caminho. Quem quiser que o siga.


Completando o acordo

Decisões da ABL para as omissões da nova lei ortográfica:

Sem hífen

"Dia a dia", em qualquer contexto
"Fim de semana", em qualquer contexto (ao modo de "fim de século")
"À toa", seja advérbio ou adjetivo
"Pé de galinha", seja ruga ou pata (ao modo de "pé de moleque", "calcanhar de aquiles")
"Bico de papagaio", o problema de coluna e nariz adunco. "Não" e "quase" complementando outras palavras, como em "pacto de não agressão" e "cometeu um quase delito"

Com hífen

"Bico-de-papagaio", a planta (ao modo de "água-de-coco" e "azeite-de-dendê")
Onomatopeias e palavras expressivas com elementos repetidos: "blá-blá-blá", "reco-reco", "zum-zum", "zigue-zague", "pingue-pongue", "xique-xique", "lenga-lenga", "tintim-por-tintim"


* Fonte: Revista Língua Portuguesa - 03/2009 - Edição 41

quarta-feira, 4 de março de 2009

Encontro - Retrato do Artista...

Sesi promove encontro de leitura orientada sobre obras literárias

“Retrato do Artista Quando Jovem”, de James Joyce é tema do primeiro encontro do ano da série “Expedições pelo Mundo da Cultura”, realizada pelo Sesi, em parceria com a Tríade Editora
O Serviço Social da (Sesi) Paraná promove neste sábado (14), em Curitiba, o primeiro encontro de 2009 do programa “Expedições pelo Mundo da Cultura”, que trata de leitura orientada e interpretação de grandes obras da literatura. Desta vez, o tema é “Retrato do Artista Quando Jovem”, de James Joyce. O evento acontece das 15h30 às 19h30, no Sesi (Avenida Cândido de Abreu, 200, 7º andar). Informações e inscrições pelo e-mail
triadeeditora@triadeeditora.com.br. Empresários e trabalhadores das indústrias têm descontos no valor da inscrição.
O encontro é orientado pelo pesquisador, escritor e palestrante José Monir Nasser. A primeira parte é dedicada à biografia do autor e à leitura de excertos selecionados da obra. Depois, o orientador conduz o processo de interpretação e avaliação dos textos.
Realizado desde 2006, em parceria com a Tríade Editora Cultura, o programa “Expedições pelo Mundo da Cultura” faz parte das ações culturais do Sesi voltadas aos trabalhadores e também à comunidade em geral. Contribuir para elevar o conhecimento e o aprimoramento das pessoas é um dos objetivos do programa. Até 2010, cerca de 100 livros serão trabalhados.
Além de Curitiba, os encontros também acontecem em Londrina, Paranavaí e Toledo. Na próxima semana, serão trabalhados os livros “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoievski, dia 17, em Toledo; “Teogonia”, de Hesíodo, dia 19, em Londrina; e “Édipo Rei”, de Sófocles, dia 20, em Paranavaí.





*Colaborou com esta postagem a graduanda do 5º período de Letras Português - Espanhol, Elis Marina de Andrade Buck.