sexta-feira, 27 de março de 2009
Tchau à mulher goiabada...
sábado, 21 de março de 2009
IV Encontro Regional de Estudantes de Letras
"Existem homens que lutam um dia e são bons;
Existem outros que lutam muitos anos e são melhores;
Existem aqueles que lutam muitos anos e são muitos bons.
Porém, existem homens que lutam toda a vida. estes são imprescindíveis". Bertold Brecht
terça-feira, 17 de março de 2009
1º Sarau Literário - PUCPR
sexta-feira, 6 de março de 2009
A arte de produzir fome...
Sugeri, faz muitos anos, que, para se entrar numa escola, alunos e professores deveriam passar por uma cozinha. Os cozinheiros bem que podem dar lições aos professores. Foi na cozinha que a Babette e a Tita realizaram suas feitiçarias... Se vocês, por acaso, ainda não as conhecem, tratem de conhecê-las: a Babette, no filme "A Festa de Babette", e a Tita, em "Como Água para Chocolate". Babette e Tita, feiticeiras, sabiam que os banquetes não começam com a comida que se serve. Eles se iniciam com a fome. A verdadeira cozinheira é aquela que sabe a arte de produzir fome...
Quando vivi nos Estados Unidos, minha família e eu visitávamos, vez por outra, uma parenta distante, nascida na Alemanha. Seus hábitos germânicos eram rígidos e implacáveis.
Não admitia que uma criança se recusasse a comer a comida que era servida. Meus dois filhos, meninos, movidos pelo medo, comiam em silêncio. Mas eu me lembro de uma vez em que, voltando para casa, foi preciso parar o carro para que vomitassem. Sem fome, o corpo se recusa a comer. Forçado, ele vomita.
Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim "affetare", quer dizer "ir atrás". É o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.
Eu era menino. Ao lado da pequena casa onde morava, havia uma casa com um pomar enorme que eu devorava com os olhos, olhando sobre o muro. Pois aconteceu que uma árvore cujos galhos chegavam a dois metros do muro se cobriu de frutinhas que eu não conhecia.
Eram pequenas, redondas, vermelhas, brilhantes. A simples visão daquelas frutinhas vermelhas provocou o meu desejo. Eu queria comê-las.
E foi então que, provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar se pôs a funcionar. Anote isso: o pensamento é a ponte que o corpo constrói a fim de chegar ao objeto do seu desejo.
Se eu não tivesse visto e desejado as ditas frutinhas, minha máquina de pensar teria permanecido parada. Imagine se a vizinha, ao ver os meus olhos desejantes sobre o muro, com dó de mim, tivesse me dado um punhado das ditas frutinhas, as pitangas. Nesse caso, também minha máquina de pensar não teria funcionado. Meu desejo teria se realizado por meio de um atalho, sem que eu tivesse tido necessidade de pensar. Anote isso também: se o desejo for satisfeito, a máquina de pensar não pensa. Assim, realizando-se o desejo, o pensamento não acontece. A maneira mais fácil de abortar o pensamento é realizando o desejo. Esse é o pecado de muitos pais e professores que ensinam as respostas antes que tivesse havido perguntas.
Provocada pelo meu desejo, minha máquina de pensar me fez uma primeira sugestão, criminosa. "Pule o muro à noite e roube as pitangas." Furto, fruto, tão próximos... Sim, de fato era uma solução racional. O furto me levaria ao fruto desejado. Mas havia um senão: o medo. E se eu fosse pilhado no momento do meu furto? Assim, rejeitei o pensamento criminoso, pelo seu perigo.
Mas o desejo continuou e minha máquina de pensar tratou de encontrar outra solução: "Construa uma maquineta de roubar pitangas". McLuhan nos ensinou que todos os meios técnicos são extensões do corpo. Bicicletas são extensões das pernas, óculos são extensões dos olhos, facas são extensões das unhas.
Uma maquineta de roubar pitangas teria de ser uma extensão do braço. Um braço comprido, com cerca de dois metros. Peguei um pedaço de bambu. Mas um braço comprido de bambu, sem uma mão, seria inútil: as pitangas cairiam.
Achei uma lata de massa de tomates vazia. Amarrei-a com um arame na ponta do bambu. E lhe fiz um dente, que funcionasse como um dedo que segura a fruta. Feita a minha máquina, apanhei todas as pitangas que quis e satisfiz meu desejo. Anote isso também: conhecimentos são extensões do corpo para a realização do desejo.
Imagine agora se eu, mudando-me para um apartamento no Rio de Janeiro, tivesse a idéia de ensinar ao menino meu vizinho a arte de fabricar maquinetas de roubar pitangas. Ele me olharia com desinteresse e pensaria que eu estava louco. No prédio, não havia pitangas para serem roubadas. A cabeça não pensa aquilo que o coração não pede. E anote isso também: conhecimentos que não são nascidos do desejo são como uma maravilhosa cozinha na casa de um homem que sofre de anorexia. Homem sem fome: o fogão nunca será aceso. O banquete nunca será servido.
Dizia Miguel de Unamuno: "Saber por saber: isso é inumano..." A tarefa do professor é a mesma da cozinheira: antes de dar faca e queijo ao aluno, provocar a fome... Se ele tiver fome, mesmo que não haja queijo, ele acabará por fazer uma maquineta de roubá-los. Toda tese acadêmica deveria ser isso: uma maquineta de roubar o objeto que se deseja...
quinta-feira, 5 de março de 2009
Os buracos do acordo...
A Academia Brasileira de Letras concluiu em dezembro e lança em março a versão mais recente do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, pela Global Editora, à luz das regras ortográficas que entraram em vigor este ano. Nele estão as palavras tal qual o acordo manda grafar. Mas também as grafias sobre as quais a nova lei se contradiz ou se omite. Não foram poucos os casos do gênero, garante o gramático Evanildo Bechara, que liderou a equipe da ABL na empreitada. - Buscamos decifrar o espírito do acordo para preencher as lacunas, fundando-nos em bom senso e na tradição lexicográfica corrente - diz Bechara.
Bechara explicou a conduta da ABL num debate em novembro, no Anglo Vestibulares, em que também participaram linguistas como José Luiz Fiorin, Francisco Platão Savioli e Maria Helena de Moura Neves.
- Ficamos sem saber se o acordo, na tentativa de simplificação, esqueceu de apresentar todos os casos ou adotou um critério de dizer que, nos casos omissos, prevalece a grafia antiga. Pois o acordo teve uso curioso do "etc.": pôs "etc." até nas exceções. Decidimos, então, que a exceção fica restrita aos casos prescritos na lei como exceção - diz Bechara.
Significa que a ABL ignorou qualquer exceção que não já citada em lei, só as que estão na lista de exceções antes de surgir o "etc."
- O espírito do acordo sugere a queda do uso do hífen. Não fazia sentido "fim de semana" às vezes levar hífen e "fim de século" nunca levar. O acordo resolve isso. Ficam os dois casos sem sinal. Mas nem tudo foi tão fácil interpretar - diz Bechara.
HifensO acordo manda ignorar o hífen em expressões compostas por mais de uma palavra, quando não há noção de composição. Mas não há pesquisas precisas sobre perda da noção de composição na maioria dos casos, pondera Bechara.
A lei ignora os elementos repetidos que formam compostos. A ABL, então, estendeu o hífen às onomatopeias e palavras expressivas: "blá-blá-blá", "reco-reco", "zum-zum", "zigue-zague", "pingue-pongue", "xique-xique", "lenga-lenga" e derivados como "zum-zunar" e "lenga-lengar". Casos mais complexos, como "tintin por tintin", são agora grafados com hífen (tintim-por-tintim).
Simplificaram, por um lado, a ortografia em vigor nas navegações, complicando de outroComo acomodar, então, a reduplicação da linguagem infantil em palavras criadas por adultos (titio, papai, mamãe)? A se aplicar a regra, haveria hifens indesejáveis nesses casos. Compreendeu-se, então, diz Bechara, que nesses casos a sílaba não funciona sozinha, não tem individualidade discursiva. Portanto, a composição não terá hífen.
E "bombom"? Não é onomatopeia, mas termo de origem francesa. Escreve-se junto, sem hífen, definiu a ABL. Assim como "bumbum". Mas se "bum" vier só e em vez do segundo "bum" houver outro elemento: com hífen, avisa Bechara.
O acordo omite a existência ou não de hífen nos casos em que "não" e "quase" estão ao lado de outras palavras. A ABL não manteve o hífen. Assim, grafam-se "pacto de não agressão" e "cometeu um quase delito", por exemplo. Sem hífen.
A lei define que terão hífen as palavras oriundas ou derivadas da botânica ou da zoologia. Daí "água-de-coco"; "azeite-de-dendê"; "bálsamo-do-canadá". Mas não "sumo de maracujá"; "suco de limão", pois a preposição não estabelece sentido único. Nem tampouco expressões usadas fora do contexto botânico. Por isso, interpretou a ABL:Bico-de-papagaio = com hífen, pois é planta.Bico de papagaio = sem hífen, pois é problema de coluna.
O acordo define que paroxítonas com ditongos ei e oi abertos perdem acento (estreia, hemorroida). Mas não se lembrou, diz Bechara, de paroxítonas presas a regras gerais de acentuação, com ei e oi, que precisam de acento se terminadas em r: "destróier", "Méier", "gêiser". A grafia delas fica como antigamente.
Mas não está dado que Portugal acate as sugestões brasileiras, podendo lançar grafias diversas das propostas pelo Brasil, se e quando tratarem do problema (os europeus resistem ao acordo e a preencher suas lacunas). A ABL cria o fato político de precipitar o debate que os portugueses tendem a levar com a barriga.
O mais contundente dado político da medida da ABL, no entanto, é o de demarcar posição e, com isso, normatizar o que talvez nem precisasse. Um equívoco no uso do hífen não é o tipo de tropeço que atrapalha a compreensão ou afete a imagem da pessoa. Ninguém será tomado por ignorante nem deixará de ser entendido ao escrever "água-de-coco" com ou sem hífen. Antes de dar vazão à ânsia normativista, talvez fosse o caso de fazer como idiomas em que o hífen é, quando não ignorado, deixado ao gosto do freguês. Mas o Brasil escolheu outro caminho. Quem quiser que o siga.
Completando o acordo
"Fim de semana", em qualquer contexto (ao modo de "fim de século")
"À toa", seja advérbio ou adjetivo
"Pé de galinha", seja ruga ou pata (ao modo de "pé de moleque", "calcanhar de aquiles")
"Bico de papagaio", o problema de coluna e nariz adunco. "Não" e "quase" complementando outras palavras, como em "pacto de não agressão" e "cometeu um quase delito"
Onomatopeias e palavras expressivas com elementos repetidos: "blá-blá-blá", "reco-reco", "zum-zum", "zigue-zague", "pingue-pongue", "xique-xique", "lenga-lenga", "tintim-por-tintim"
quarta-feira, 4 de março de 2009
Encontro - Retrato do Artista...
“Retrato do Artista Quando Jovem”, de James Joyce é tema do primeiro encontro do ano da série “Expedições pelo Mundo da Cultura”, realizada pelo Sesi, em parceria com a Tríade Editora
O Serviço Social da (Sesi) Paraná promove neste sábado (14), em Curitiba, o primeiro encontro de 2009 do programa “Expedições pelo Mundo da Cultura”, que trata de leitura orientada e interpretação de grandes obras da literatura. Desta vez, o tema é “Retrato do Artista Quando Jovem”, de James Joyce. O evento acontece das 15h30 às 19h30, no Sesi (Avenida Cândido de Abreu, 200, 7º andar). Informações e inscrições pelo e-mail triadeeditora@triadeeditora.com.br. Empresários e trabalhadores das indústrias têm descontos no valor da inscrição.
O encontro é orientado pelo pesquisador, escritor e palestrante José Monir Nasser. A primeira parte é dedicada à biografia do autor e à leitura de excertos selecionados da obra. Depois, o orientador conduz o processo de interpretação e avaliação dos textos.
Realizado desde 2006, em parceria com a Tríade Editora Cultura, o programa “Expedições pelo Mundo da Cultura” faz parte das ações culturais do Sesi voltadas aos trabalhadores e também à comunidade em geral. Contribuir para elevar o conhecimento e o aprimoramento das pessoas é um dos objetivos do programa. Até 2010, cerca de 100 livros serão trabalhados.
Além de Curitiba, os encontros também acontecem em Londrina, Paranavaí e Toledo. Na próxima semana, serão trabalhados os livros “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoievski, dia 17, em Toledo; “Teogonia”, de Hesíodo, dia 19, em Londrina; e “Édipo Rei”, de Sófocles, dia 20, em Paranavaí.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Trote solidário
Campanha da Pastoral e DCE da PUCPR pretende mobilizar calouros e veteranos.
O Núcleo de Pastoral e Diretório Acadêmico Central da PUCPR promovem a partir desta terça-feira (17) a campanha “Transforme trote em ação solidária”. O objetivo é arrecadar alimentos não-perecíveis e material escolar para serem encaminhados para escolas e comunidades que atendem crianças, adolescentes e famílias de baixa renda. A coordenação da campanha espera contar com a participação de alunos calouros e veteranos, além de professores e funcionários da Universidade. A contribuição poderá ser entregue no Núcleo de Pastoral PUCPR e no DCE até o dia 7 de março. Quem fizer as doações ainda poderá se inscrever para participar da entrega do material arrecadado.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Mais uma opção para o feriado...
Serviço
Miniauditório
Rua Amintas de Barros, s/nº
Fone: 3304-7900
Data: 04/02 a 01/03
Horário: 4ª a sábado – 21 h
Domingo – 20 h
Ingresso: R$ 20.00 (inteira)
R$ 10,00 (estudante, classe teatral, carteira Teatro Guairá, Clube do Assinante, Onda RPC, Curitiba Interativa e maiores de 60 anos)
Duração: 60 minutos
Faixa etária: 14 anos
Para quem não vai pular Carnaval...
Contato Bar Madrid
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E-mail romias@barmadrid.com.br
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Horários de funcionamento AlmoçoSeg. a sex. das 11h30 às 14h30NoturnoSeg. a sáb. das 18h00 à 1h00.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Por que alguns livros, ou textos, mexem com a nossa cabeça?
Sinto que os livros, antes, durante e depois de saborosamente lidos, não mexem só com a nossa cabeça. Mexem com tudo de nós, com a nossa existência. Como uma sinfonia, um turbilhão, uma maratona, uma revoada.Nunca ficamos sendo o mesmo no decorrer de uma leitura que se preze. Acho que é porque, quando lemos, somos simultaneamente únicos e muitos. Temos muitas vidas para viver durante um simples ato de ler, ao mesmo tempo reais e imaginárias. Afinadas e sincronizadas. Talvez seja esse o segredo. O mundo real acaba não saindo ileso do nosso ato de leituras. Ele vai se modificando paulatinamente naquilo que é incorporado no olhar do seu morador e leitor que o investiga e o redescobre à luz dos textos lidos. O nosso coração se exercita nos músculos e nas emoções das personagens que acolhemos. Em tempos, espaços e situações adversos.Visitamos, do nosso canto doméstico, preferido ou particular, lugares e sonhos nunca imaginados. Quantas vezes, em plena tarde ensolarada, armados não só de uma limonada geladinha ou de um cheiro de bolo assando, mas sobretudo de todo o nosso patrimônio de leituras, nos colocamos de frente a um problemainsolúvel ou a um dilema que nos retorce por inteiro e nos envolve deliciosamente? Movidos pelo simples prazer, ficamos a imaginar. Somos amalgamados, vivendo a vida que desabrocha das entrelinhas das páginascomo frutos maduros e a vida real que seguimos vivendo, por vezes crua, sem graça, previsível, corrida e real demais.Como ficaria a vida sem os livros? Nem pensar. Acho que tudo ficaria mofo, sem graça, sem beleza...O livro é uma espécie de academia bem aparelhada capaz de exercitar o nosso comando maior, a cabeça, e todo o maquinário natural que dentro dela está e nos faz pulsantes, singularmente concretos e sobreviventes vibrantes.Presenteamos o cérebro com as leituras e ele fica em boa forma. Então dá de sonhar fácil, de inventar de tudo, de amar o essencial, de optar e decidir com autoria, de aprender mais, de perdoar com leveza, de lavar águas e alma, de perceber minúcias de azuis e verdes, nuances da alvorada, de comprar com outros olhos e mãos, de comparar valores implícitos, de se encantar, de olhar o quase não visto, de usufruir aromas e movimentos, de observar, imaginar e fazer acontecer pela pura intenção de existir o desejado, de investir e investigar como quem respira leve, de refazer, repensar, tomar partido, se expor, potencializar, estar presente... E mais uma infinita modalidade de atitudes que nos qualifica e nos identifica como humanos e inteligentes.Acho que cada vez que um livro, um poema, um texto mexe e remexe com a nossa cabeça, essa metáfora do humano em nós, nos tornamos gente, genuinamente pessoas.Você já se pegou num atormentado prazer de ler e reler algum conto ou poema e sentir-se completamente envolvido em uma situação inusitada, perplexa, maravilhosa, intrigante ou coisa assim?Você já devorou algum romance rapidamente, quase num fôlego só, se entregando plenamente a uma trama interessante, envolvente e original a ponto de no “acabou-se o que era doce” ficar nadando no ar um gosto bomde quero, queria mais?Você nunca teve uma leve sensação de suspeita e fantasiosa lucidez em meio a uma leitura de estudos de que o autor escreve exclusivamente para você, como se adivinha a sua necessidade especial de saber algo mais? Ou que no fundo teria chegado às mesmas conclusões implícitas no texto? Parece até que em nós se instala o esboço, a primeira versão. O autor só teria o mérito de organizar tudo, nos dando de presente o que já tínhamos desenhado em nós, intuitivamente.Você já experimentou reler algum livro esquecido, abandonado ou perdido no emaranhado da sua história? Quantas descobertas vêm à tona nas releituras...Essas são algumas das situações que a gente vive em torno do convívio com o livro. Ele sempre é e será inusitado, sutil, imprescindível, surpreendente e laborioso. E a nossa cabeça, o nosso corpo e o nosso viver precisa dele. Como precisa do amor. São coisas de leitor e leituras que criam e iluminam dinâmicas inteligentes em nossa cabeça, em nosso pensar, em nosso existir.Depois de tudo isso, guardo a sensação de que poderia responder à pergunta título expondo infinitas e plausíveis imagens que fluem do encontro leitor e livro, como dinâmicas fotografias. Mas, simplificando, me arriscaria a dizer sem sobressaltos que, para mim, o livro mexe com a nossa cabeça porque dá sentido à vida. Nos humaniza. Faz emergir da gente o primordial e genuíno que há em nós e nos faz humanos. A inteligência, os sentimentos. O gosto pelo viver, pelo outro, pelo convívio. Pelos mistérios que nos inundam. E sobretudo porque nos coloca diante de uma gama infinda de possibilidades de aprendizagens, revigora nossas experiências, nos faz atravessar as paredes do tempo, imaginar, brincar, intuir, sonhar, fortificar as sensibilidades, mergulharem novas águas ou nos jogar novamente em águas de outrora, nos faz encantar, renovar, fugir da mesmice, do monótono, refletir, ver as coisas com outros olhos, lúcidos e lúdicos, mudar, aprimorar-se... Criar e, em um diapasãode alegria íntima, descobrir essas sutis engenhosidades do cérebro humano, que são a maior bênção para quem está vivo!
Por Antonio Gil Neto - Pesquisador do Cenpec
Fonte: http://www.prazeremler.org.br/prazeremler/html/content/sobre/default.aspx em 12/02/2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
A MATURIDADE DO INTERNETÊS
Desde que a internet começou a popularizar-se, em meados dos anos 90, muita coisa mudou nos hábitos de escrita e comunicação no mundo todo. Primeiro surgiu o e-mail, depois vieram as salas de bate-papo e os comunicadores instantâneos (como ICQ e MSN) e, finalmente, os blogs e as redes sociais (Orkut, Facebook etc.), hoje tão populares entre os adolescentes quanto diários e papéis de carta um dia já foram. Em meio a essas mudanças, com o advento de novos recursos e ferramentas comunicacionais, o internetês - nome dado à grafia abreviada utilizada na internet - acabou se desenvolvendo e cristalizando-se à medida que a rede mundial de computadores evoluiu. Sobretudo no Brasil, a expansão e a democratização do acesso à rede saltam aos olhos: estima-se que o número de internautas no país chegue a 40 milhões, segundo balanço realizado pelo Ibope/NetRatings em novembro - praticamente o dobro do número de usuários detectado em 2007 (21 milhões à época). Desse total, cerca de 2 milhões têm entre 6 e 11 anos de idade, dado que indica uma adesão cada vez mais precoce da população à tecnologia. Apenas para se ter uma ideia da quantidade de informações veiculada por esses milhões de usuários, a Microsoft estima que sejam trocadas 8,2 bilhões de mensagens por dia em todo o mundo por meio do MSN, popular programa de troca de mensagens criado pela empresa de Bill Gates. Ferramentas como esta, entre outras baseadas na escrita que a internet oferece, têm acelerado o processo de comunicação entre as pessoas, influenciando a relação delas com a palavra e resgatando o valor do texto escrito como há muito não se via.
DiscernimentoMuitas pessoas veem no internetês - essa espécie de "língua" oficial dos jovens conectados - um mal iminente, à espreita de corromper a forma padrão do idioma e de tornar o patrimônio da língua uma grande sala de bate papo, repleta de flw ["falou"], blz ["beleza"] e demais abreviações informais que, em geral, os adolescentes usam para comunicar-se.
- A web não tem culpa de nada. Pessoas com boa formação educacional sempre conseguirão separar a linguagem coloquial da formal. Elas sabem quando dispensar os acentos e quando pingar todos os "is". Os manuais de cartas formais estão aí para provar que sempre houve uma linguagem para cada tipo de ambiente - afirma Arlete Salvador, autora de A Arte de Escrever Bem (editora Contexto).
Para Arlete, o falante do idioma tende a identificar a variante adequada a cada situação de comunicação.- Cartas de amor são diferentes de um pedido de compras de material de construção, por exemplo. Vejo a web como mais um instrumento de comunicação: ela é o que fazemos dela - argumenta Arlete.
A jornalista chama a atenção para a enorme quantidade de analfabetos funcionais no país, cujo problema não será agravado pela linguagem da internet, tampouco solucionado, por se tratar de um problema de alfabetização, de educação formal.
- Não vejo problema no internetês se a pessoa que o utiliza apresenta uma boa formação em língua portuguesa. Mas se essa pessoa não aprendeu o português direito e só se comunica dessa forma, ela pode cometer erros. Alguns funcionários mais jovens se acostumaram a não colocar acentos, pois dão mais trabalho na hora de digitar, já que é preciso apertar duas ou mais teclas - afirma Ligia Crispino, professora de português e sócia-diretora da escola Companhia de Idiomas. Para Ligia, o uso de abreviações e de linguagem informal na comunicação interna das instituições é mais tolerado, embora dificilmente chegue ao conhecimento dos clientes, o que poderia "queimar" a imagem da empresa.
- Entre adultos, já formados, capazes de discernir e produzir textos em diferentes formatos, é possível crer que haja suficiente maturidade para lidar com o internetês. Porém, no que se refere às novas gerações, ainda em formação, é grande a confusão que se estabelece entre a norma culta da língua portuguesa e a linguagem coloquial da web. Isso se explica ao levarmos em conta a exposição demasiada dessa garotada à internet e os baixos índices de leitura auferidos no país - justifica.
- Alguns jovens falam com três ou mais amigos simultaneamente em um programa de mensagens instantâneas enquanto escrevem um e-mail, baixam um vídeo, ouvem música e ainda escrevem no Word [programa para edição de textos]. São impacientes. Não são pessoas acostumadas a ler extensos romances ou livros do começo ao fim. Estão acostumados com a linguagem da internet, concisa e objetiva - afirma Ozaki, para quem esses adolescentes, por lerem menos e ficarem muito tempo em frente ao computador, apresentam grandes limitações no trato com a língua portuguesa.
Pessoas que possuem esse esse perfil enviam dezenas de SMS [do inglês short message service] por dia, e são exímias datilógrafas em aparelhos celulares, cujos teclados acanhados são um convite às abreviaturas típicas do internetês. Devido a essa agilidade nos dedos, esses jovens são conhecidos no Japão como oyayubi sedai, ou "geração do dedão".
- Assim como uma "tribo", com suas próprias gírias e seu próprio modo de falar que a identificam, o mesmo se dá com o internetês, que é usado apenas no espaço que lhe cabe, isto é, na internet e nos torpedos SMS - defende Nogueira.
A professora compreende essa grafia como algo restrito apenas à comunicação informal na internet.
- Mas onde e quando se deve usar o internetês, cabe ao professor orientar seus alunos e mostrar que existem vários níveis de linguagem, vários contextos de uso e vários níveis de formalidade na comunicação. O aluno pode expressar-se utilizando abreviações, neologismos, caricaturas e até não usando acentos, mas fora desse ambiente virtual, em outras situações escritas, isso não é bem aceito ainda - recomenda.
- A língua é viva e dinâmica, toda a mudança que ocorre é norteada pela fala, pelo povo, e pode demorar, mas ocorre. Assim como aconteceu com "vossa mercê", que virou "você" e que agora está se transformando em "cê", quem sabe o internetês não seja um precursor de outras mudanças, mas no âmbito da grafia das palavras, já que ninguém falaria vc em vez de "você" ou "cê" - questiona a professora.
- O uso de emoticons é típico do internetês. Com um único símbolo, se transmite à outra pessoa o seu estado de espírito, funcionando quase como um ideograma das línguas orientais, onde um símbolo expressa um sentimento - afirma Ozaki, da Fiap.
De forma análoga, temos no Brasil trocadilhos já consolidados por usuários da internet, tais como "googlar" (fazer uma pesquisa no site de buscas Google), cometer "orkuticídio" (excluir o próprio perfil da rede social Orkut), entre muitas outras palavras e expressões pescadas de atividades virtuais para a "vida real".
Já que o avanço tecnológico é um processo irreversível, assim como as marcas que o progresso vai deixando na linguagem, é necessário admitir essas aquisições como expressões legítimas, sem nunca perder a chance de usar a forma culta da língua portuguesa quando for necessário. Também cabe a pais, professores e educadores orientar seus alunos para que tal interesse reverta-se em produção escrita, não importando se os textos produzidos forem à tinta ou digitados no computador.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
180 MILHÕES DE LINGUISTAS
Pois cheguei à conclusão de que o Brasil também tem 180 milhões de lingüistas. Isso mesmo! Somos 180 milhões de cidadãos que adoram palpitar sobre as línguas em geral e sobre a língua portuguesa em particular. E fazemos isso com a sem-cerimônia e desenvoltura de grandes experts (ou espertos) no assunto.
Quando se trata da língua, não é raro ouvirmos os maiores disparates, eivados de preconceito e miopia intelectual, proferidos amiúde em tom solene e professoral por pessoas que às vezes mal têm o ensino fundamental completo. Frases chauvinistas como “o português é a mais bela e perfeita língua do mundo”, “o francês é o idioma da lógica e do equilíbrio” ou “só é possível filosofar em alemão” já se tornaram lugar-comum em discussões do gênero. Mas críticas impertinentes e infundadas como “o inglês é uma língua absurda, que põe o adjetivo antes do substantivo” ou “só uns estúpidos como os alemães podem construir palavras tão quilométricas” também pululam nas rodas de bate-papo e revivem certos mitos que remontam ao século 19, quando romanticamente se acreditava que as línguas eram organismos vivos, inteligentes e, por isso, dotados de “personalidade”. Daí que o italiano é uma língua sensual, o francês é cartesiano, o alemão é militarista, o inglês é cerimonioso, o tupi é indolente…
Quando o assunto é etimologia, então, nem se fala: todo mundo sabe exatamente de onde vieram as palavras. Corre uma lenda, por exemplo, de que coitado deriva de coito, ato sexual, o que dá um ar malicioso – e por isso mesmo atraente – a esse epíteto. Na verdade, coitado vem do português medieval coita, “sofrimento”, por sua vez originário do latim vulgar cocta. Trata-se de um caso, como muitos, de etimologia popular, em que o aspecto sugestivo da palavra parece inspirar as pessoas a descobrirem certos estratos geológicos de sua história que jamais existiram. E, por vezes, o achismo lingüístico é tão mais sedutor que a verdade científica que, diante de uma explicação convincente mas fantasiosa, a dura realidade fica meio sem graça. Falsas etimologias existem, que eu saiba, desde que o homem fala. Platão, no Crátilo, afirmou que os heróis têm esse nome por serem fruto do amor (Eros) entre um deus e um ser mortal. Santo Isidoro de Sevilha, o “patrono da etimologia”, sustentava, dentre outras estultices, que femina (“mulher” em latim) proviria de fide minus, “menos fé”, e que mulier (também “mulher” em latim) viria de molior, “a mais mole”. Mas, se naquela época tais absurdos eram toleráveis, hoje, com os enormes avanços da pesquisa em lingüística, é deplorável que tais mitos ainda façam adeptos. O pior de tudo é que cidadãos leigos não se intimidam em debater sobre questões de língua com especialistas. Embora ninguém que não seja médico ou advogado se atreva a discutir medicina com um médico ou leis com um jurista, qualquer zé-dos-anzóis se sente à vontade para polemizar com um lingüista sobre a origem das línguas, o melhor sistema ortográfico, a superioridade de um idioma sobre outro… Alguns chegam a arvorar-se em legisladores da língua, sem ter mandato para tal (será que alguém tem esse mandato?). É que existe a crença mais ou menos generalizada de que medicina e direito são matérias de alta especialidade, ao passo que a língua é assunto de domínio público. Afinal, nem todos clinicam ou advogam, mas todos falam. E, portanto, qualquer um sabe “ensinar o padre-nosso ao vigário”. Já ouvi mais de uma vez a afirmação de que o português se originou do grego – ou, pior ainda, do celta ou do fenício –, que por sua vez descende do hindu (parece que hinduísmo agora é língua!). Trata-se de uma tremenda mixórdia de informações desencontradas, entreouvidas aqui e ali, colhidas às vezes de fonte não confiável, ou distorcidas pelo “ruído na comunicação”. Além de tudo, a palavra de autores aventureiros, bem como obras de certos gramáticos e filólogos do passado, já superados, ainda ecoam como factóides na cabeça dos leigos, que evidentemente não têm senso crítico para discernir o que é fato e o que é lenda, o que é informação científica atual e o que é mera especulação filosófica ultrapassada.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
A REFORMA ORTOGRÁFICA
Talvez esses dados já pareçam suficientes para que a ONU adote o Português como uma de suas línguas oficiais, porém não é o que acontece. Atualmente são seis idiomas neste rol: o árabe, o espanhol, o francês, o inglês, o mandarim e o russo. Um dos empecilhos encontrados é o fato de qualquer documento redigido em Português ter de ser feito em duas vias, uma com o Português falado no Brasil e outra com o de Portugal, devido à existência de duas escritas oficiais.
As questões diplomáticas
A solução encontrada para unificar o idioma foi realizar uma reforma ortográfica que padronizaria a escrita em todos os países da CPLP. Em 1990 foi firmado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, como é chamada oficialmente a reforma ortográfica, cuja idéia inicial, presente no artigo, era que até 1º de janeiro de 1994 as novas normas já estivessem em vigor. No entanto, somente Portugal, Brasil e Cabo Verde haviam ratificado o acordo até esta data.
Em julho de 1998, em Cabo Verde, foi assinado o Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que retirava do texto original a data para a entrada em vigor das novas regras. Mais uma vez, somente três países ratificaram o protocolo (Brasil, Portugal e Cabo Verde). Em 2004 um novo acordo foi assinado, porém, não foi ratificado por Portugal. Segundo Vasco Graça Moura, escritor e deputado português, o Segundo Protocolo inclui um artigo que obriga a sua aplicação mesmo que não seja aprovado por todos os países, o que estaria fora dos padrões de acordos internacionais. O fato é que além do texto do Protocolo, existia também um forte sentimento contrário à reforma por parte dos cidadãos portugueses, onde as mudanças afetam mais diretamente a população. O argumento mais usado é o de que a mudança seria ruim para as identidades nacionais. Alguns afirmavam que ao mudar a grafia de palavras se estaria cedendo a uma influência brasileira, já que o Brasil é o maior país de Língua Portuguesa.
A discussão se estendeu por anos e defensores da polêmica unificação afirmam que a reforma é uma decisão política, já que facilitaria a entrada do quinto idioma mais falado do mundo para a lista das línguas oficiais da ONU, facilitaria buscas na internet e unificaria os termos jurídicos em contratos internacionais. Finalmente, no dia 16 de maio, após 18 anos do seu lançamento, o parlamento português aprovou os termos da reforma.
A implantação
Enquanto no Brasil o prazo para a implantação das mudanças é de três anos, Portugal optou pelo prazo mais longo de seis anos. Isso significa que, no Brasil, em 2010 as novas regras já serão cobradas pelos colégios nas provas.
O acordo ortográfico que já foi aprovado pelo Congresso brasileiro e publicado no Diário Oficial depende agora somente a assinatura do Presidente Lula para que entre em vigor no ano letivo de 2009. Segundo a determinação do Ministério da Educação (MEC) que será apreciada pelo Presidente, os livros didáticos distribuídos no próximo ano já devem incluir as novas regras. Os editores de livros, porém, só passam a ser obrigados a segui-las a partir de 2010.
Referências:
http://www.igeduca.com.br/artigos/acontece/reforma-ortografica.html
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u485725.shtml